segunda-feira, 21 de julho de 2008

Tarefas diárias hoje e há 30 anos atrás


Em 1978 meus pais adquiriram um enciclopédia Larousse. Linda, beige e dourada, papel couché, cheirosa. Marcante. Há 30 an0s atrás.
O cérebro humano tem um acertado mecanismo contra o sofrimento eterno. A nossa mente é capaz de modificar o conteúdo de nossas memórias assim como o registro emocional associado a um determinado conteúdo de memória, mas o faz de forma tendenciosa. Sempre para uma versão mais positiva da história. Claro que não houve essa consciência e intenção entre nossos ancestrais, mas essa habilidade faz um bem danado à nossa existência. No entanto, não é suficiente para aplacar o nossos sofrimentos e angústias diários. Ao tentar me lembrar de minha rotinazinha 30 anos atrás, tenho uma sensação de fundo de prazer de outros tempos, não sei ao certo o porquê mas parece que eu já fui mais feliz nesse tempo do passado. Ora bolas, eu realmente era mais feliz ou hoje acho que fui mais feliz porque minha mente não me permite mais recuperar exatamente a sensação que tive no passado? Não sei responder. Mas voltando a questão das tarefas, há 30 anos atrás a minha vida era muito descomplicada. Resumida a uma única responsabilidade que minha mãe me repetia "você só tem que estudar". Na realidade também tinha que ser um bom menino, educado, etc, o básico da época. Naquele tempo eu tinha, pelo menos por minha memória, uma sensação de controle da situação, de domínio sobre a realidade, de conhecer o caminho das pedras, repetido n vezes por minha mãe para que eu não o esquecesse mais. Hoje em dia, tenho um zilhão de tarefas, compromissos e obrigações. Até compromissos comigo mesmo de me divertir. Uma sensação de me afogar em números, datas, eventos, pessoas, sorrisos, cantar parabéns, batizados, almoços, dias dos pais, relatórios, faxinas, exercícios físicos, torneios, barriga....não tem fim. Não tem fim. Mesmo que eu crie atividades com começo meio e fim, não alcanço essa sensação de dever cumprido. Eternamente cumprido, até que eu invente outro. Claro que há 30 anos atrás eu vivia acossado por uma prova escolar no horizonte. Quando entrei na faculdade, me vi livre do tormento das provas mensais e bimestrais, livre de estudar e ter que aprender sobre o que não gostava. Mas parece que ficou pior?!<,>? (falta clarividência). Alguém aí tem a resposta?
P.S. Estudos científicos que se valem de dados rememorados pelos participantes são alvo de críticas porque sempre há viéses nas lembranças. O mesmo vale para testemunhos, versões, releituras, etc.
SH.

5 comentários:

  1. Não tenho o seu conhecimento científico para justificar as coisas... Mas partilhando uma experiência que venho fazendo comigo mesmo me predisponho a comentar seu texto.

    Anos atrás joguei fora a palavra felicidade e todas as suas variações...

    Substituí tal palavra por duas... alegria e contentamento.

    Analisei tudo o que vivi e rejustifiquei esquecendo a palavra felicidade, substituindo tais memórias pela alegria e contentamento... Depois apliquei tal conceito a vida presente...

    De alguns anos pra cá, parece funcionar um pouco melhor, parece que o presente ficou mais suave, parece que o futuro ficou mais bacana e o passado nostálgico é uma delícia...

    Algumas vezes fico "contente" indo a aniversários, ou reuniões de projeto, e dependendo do aconteça nessas ocasiôes, fico alegre ou não...

    Algumas vezes fico contente em ter uma sequencia de dias onde eu mal consiga respirar, dado os compromissos sociais, profissionais ou artísticos... Contente por saber que se vivo em meio a turbilhões ocasionais, eu sou o responsável pelos mesmos, estou no momando, ou pelo menos, imagino estar, logo sinto alegria e orgulho de meus caminhos, de minhas escolhas...

    Nem tudo é festa, nem tudo é bonito... Nem tudo deu certo... Mas desde que apliquei tal conceito, o de substituição de palavras, tenho conseguido sorrir mais fácil e de graça. Coisa boba...

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  2. Acredito que aconteça com todos os adultos a mesma sensação.

    Os jovens não tem a mesma montanha de preocupações que acomentem os adultos, ou seja, família, trabalho, conta bancária, barriga, limpar quintais, lavar carros, cuidar de seus carros, etc. Eles tem mais tempo para pensar em si mesmos e sempre há a procura pelo prazer, seja imediato ou duradouro. Já fui jovem, curtia muito ficar com meu grupo de amigos sem fazer nada, jogando conversa fora, acompanhar os campeonatos de futebol (tinham mais graça, acredito eu, acompanhar a evolução dos carros, acompanhar determinados
    grupos musicais ou intérpretes solo, adquirindo os seus lançamentos, etc, etc, etc.

    Hoje em dia, adulto, não encontro mais tanto prazer em determinados assuntos antes prazeirosos, aliás, fico em "mimmesmando" eu era feliz e não sabia. Guardo com prazer determinados momentos passados mais distantes, que me levam a sorrir sempre que me recordo deles (a noticia de uma gravidez, buscar os filhos recém nascidos no hospital, um primeiro encontro, o primeiro carro, o primeiro baile). Atualmente, boas lembranças parecem que foram substituidas pelo tentar viver, sobreviver, se esconder, se proteger, notou as diferenças?

    São premissas de adultos? Coitados deles.

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  3. Pobres lembranças que ficaram para tras.

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  4. Bem oportuno essa retrospectiva do passado considerando os últimos 30 anos.
    Por coincidência, tenho refletido sobre a mesma época que coincidiu com o início da minha adolescência.
    Felizmente percebo que hoje tive o privilégio de ter um amadurecimento que permite ver como as convicções daquela época já foram a muito superadas.
    Apesar disso, percebo que, apesar de sabermos do erro, ainda não conseguimos acertar o passo.
    Um exemplo disso é sobre o usufruto que fazemos sobre os recursos naturais. Apesar da consciência sobre o quanto fazemos o uso insustentável dos mesmos, ainda não conseguimos encontrar a fórmula de usufruirmos do bem natural de forma adequada.
    No entanto, hoje com quase 45 anos, me sinto pleno e feliz de agir para tentar melhorar um pouquinho o nosso mundo e melhorar a vida das pessoas que convivem conosco e, principalmente, os nossos filhos.

    Escames

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  5. Eu tambem me lembro das enciclopédias q meu pai comprava "Larousse", "Britanica", "Conhecer", tem todas ainda na casa dele.
    Flavio

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