segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Lapso de vida

Ontem atendi uma paciente que me relatou uma história impressionante. Ela foi assalta há cerca de 2 semanas quando chegava em sua casa, na garagem do prédio, enquanto esperava o portão abrir. Percebeu que os indivíduos se aproximavam, mas decidiu absolvê-los de imediato "são apenas pessoas mais simples, não terei medo". Quando a abordaram, entendeu o que estava acontecendo. Saiu por um instante da realidade. Tudo muito rápido, passou a ser comandada. "Abre a porta!" "Desce!" Ela pergunta: "Posso pegar meus documentos?"  E faz menção de retornar. "Você tá louca?". Ela não estava louca, foi só uma pergunta automática. Um dos bandidos a arremessou no chão, engatilhou a arma e mirou em sua cabeça. Haveria uma execução ali mesmo se um dos meliantes com cerca de 40 anos de idade não gritasse insistentemente "não vai fazer besteira! não vai fazer besteira!". O comparsa sangüinário demorou mas ouviu-o, subiu no carro, fez uma manobra que por pouco não a atropelou e mergulharam na noite. A minha paciente contou que pela manhã foi reconhecê-los na delegacia. Foram pegos! Viva, há policiamento! Não é bem assim. Após abandonarem a minha paciente, o bando assaltou e espancou um homem e assassinou uma mulher. Ao empreenderem fuga, sofreram um acidente, o que acabou por facilitar o trabalho da polícia.
Aqui farei uma breve análise do perfil desse tipo de criminoso. Homem jovem, frio, impulsivo, violento, sem consumo de drogas, cujo prazer é bater ou matar pessoas, em situação fragilizada, submetida, que não oferecem risco ao mesmo. A morte compõe uma espécie de estatística macabra e íntima dessas pessoas. Não há remorso, noites insones, sofrimento. Apenas conquistas. Mais um assassinado, contabiliza o matador. Não há honra. Mata-se homem, mulher, idoso, jovem, pai de família, diante dos filhos, de joelhos, pelas costas. Justifica-se o assassinato como "ofereceu resistência", "falou muito", "poderia me reconhecer" mas a covardia não permite a esses marginais de assumirem o seu verdadeiro caráter predador. Ainda trntam se justificar. As presas somos nós, no regresso do trabalho, ou quando vamos à padaria, ou retornando da escola com os filhos.
Infelizmente não há como identificá-los. Fisicamente são pessoas normais, andam, falam e se trajam como qualquer outro. Esse caráter maligno só se revelará em um contato mais próximo, onde o bandido toma o controle da situação. Caso o bandido esteja submetido, e os policiais sabem disso, eles ficam dóceis, mansos, obedientes. Apenas um mecanismo de defesa para permanecerem vivos. Caso se submetam continuam vivos. Nós, se submetidos é meio caminho para a morte. Se libertos, farejam as presas mais indefesas e partem para o ataque.
A minha paciente é uma sobrevivente. Realmente os bandidos estavam prontos para assassinar naquele dia. Um noite que não passaria em branco.

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