segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O casulo anti-sentimentos

Será que realmente as pessoas conseguem se isolar dos sentimentos tão eficazmente? A hipótese dos medicamentos que facilitam a fuga dos próprios sentimentos nunca me pareceu tão clara assim. O primeiro argumento é que medicamentos não são tão poderosos assim a ponto de criarem um película de isolamento entre o paciente e seus sentimentos. Acho que muitos tem essa falsa idéia sobre medicamentos psicotrópicos. Vejamos os calmantes, muito utilizados nas situações de luto. Essas substâncias não tem essa propriedade farmacológica. Quando os vejo utilizados, em geral agem como soníferos. Ou seja, não atendem aos pedidos dos pacientes. Aliás esse é um sentimento comum no médico. Eu escuto o paciente, sei o que ele quer mas não tenho nada para oferecer. Ao invés de frustrá-lo completamente e dizer "olha, não existe remédio para isso que você quer", digo "vou te prescrever um medicamento que só vai auxiliá-lo a descansar um pouco melhor". E explico que o luto é uma reação normal até 6 meses após o ocorrido e que caso os sintomas piorem então vale a pena passar por nova consulta. O paciente sai da consulta sem blindagem. Realmente nenhum de nós é preparado para perdas, a não que as tenhamos sofrido ao longo da vida. Ou seja, só vivendo a vida nos preparamos para os momentos mais difíceis. Mesmo as pessoas com excelente capacidade de enfrentamento de situações difíceis e brilhante superação (que é ter resiliência) sofrem por um período, mas conseguem reagir mais rapidamente e entrar nos trilhos novamente.
Assim, remédio para luto? Prefiro não prescrever.

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