terça-feira, 24 de maio de 2011

pai psiquiatra, psiquiatra e pai

No dia-a-dia, atendo a chamados de urgência em pronto-socorro. São pacientes que chegam para atendimento, o clínico os atende, se julgar que seja necessária a opinião de um psiquiatra me chama. Em geral, vem uma breve informação sobre cada caso além da identificação, como a idade e o provável diagnóstico. Nesse caso, a recepcionista me passou as seguintes informações: "Dr., o paciente tem vinte anos e esquizofrenia". Fui em direção ao pronto-socorro, trajeto de menos de 2 longuíssimos minutos. Imaginei um garoto imberbe, feliz, adolescente, como se fosse meu filho, saudável, correndo, estudante. Olhei para os lados, os carros vindo, os caminhões manobrando, a falta de faixa de pedestres...ter um menino de vinte anos com esquizofrenia deve ser uma barra, pensei. deve ter começado a ter sintomas um pouco antes, talvez aos 17, 18 anos, eu torço, rezo no trajeto para que o diagnóstico esteja errado para que não seja esquizofrenia! Para que seja qualquer coisa mais leve, potencialmente reversível e tratável, uma bipolaridade talvez, um surto por drogas, qualquer coisa mais leve. Chego ao posto de enfermagem. Tento de canto de olhos identificá-lo no salão. Não consigo. Vem a atendente de enfermagem e me traz o prontuário, aponta o paciente e a mãe. Antes de entrevistar o paciente. Rapidamente me dirigido à mãe. Sua fácie está congelada. Vou até ela e me apresento. Tento deixá-la um pouco mais relaxada, procuro falar com calma e pausadamente, uso frases bem curtas para ser bem claro e para transmitir calma e objetividade. Clinicamente houve mudanças medicamentosas recentemente. O paciente havia se adaptado a medicamentos de alto custo, condicionados a um tratamento particular ao qual não tinha mais acesso. Oriento-os que os mesmos resultados que haviam obtido com o medicamento anterior poderia ser obtido com outros medicamentos mais acessíveis. Um drops redutor de angústias. Será que resolveu? 19 horas. O plantão acabou.

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